Em março de 2020, Boa Vista registrou o primeiro caso de coronavírus no Estado de
Roraima. Seguindo as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS), o governo estadual passou a normatizar medidas sanitárias para restringir a circulação da doença, determinando o distanciamento social e residencial como principal política de controle pandêmico. Nessas condições, mulheres e homens passaram a conviver diariamente realizando, inclusive, da própria casa as atividades profissionais. Segundo pesquisas midiáticas, esse convívio doméstico em excesso e levou os casos de violência doméstica contra a mulher no Brasil e no mundo, transformando a casa em um cenário intenso de ofensas e agressões. Dessa forma, com o presente artigo, analisamos se na capital roraimense o mesmo fenômeno social acontece entre os anos de 2020-2021. Identificamos, ainda, os possíveis motivos que acarretam o aumento dos casos de violência doméstica contra a mulher em Boa Vista a partir da condição pandêmica. Para tanto, empregamos como fonte os dados de violência doméstica da Delegacia Especializada em Atendimento à mulher (DEAM), órgão de segurança pública localizado também na capital. Além de recortes de jornais que discutem a temática de forma nacional
e local, permitindo-nos reconhecer um pouco da vivencia das vítimas e seus agressores no cotidiano pandêmico. Utilizamos como aporte teórico-metodológico autores que compreendem a organização do mundo social a partir de relações conflituosas entre sujeitos e grupos: os conceitos de representação, identidade e gênero, poder respectivamente elaborados pelo historiador Roger Chartier (1990), o sociólogo Stuart Hall (2003) e o filósofo Michel Foucault (2012). Concluímos que a violência doméstica contra a mulher na capital roraimense é uma problemática de segurança pública que se constrói de forma histórica e cultural nas relações entre os gêneros, mediada por condições sociais, econômicas e políticas mais amplas.