O turismo caracteriza-se como atividade econômica que se utiliza da comercialização de paisagens, muitas vezes reconhecidas como bens difusos, ao gerar, assim, certos impactos sociais, econômicos e ambientais, caracterizados como produtos intangíveis, quer sejam naturais ou modificadas por ações antrópicas. Sua comercialização inclui também um conjunto variado de outras atividades que servem para subsidiar seu desenvolvimento, desse modo, caracteriza sua interdisciplinaridade, sendo assim, cada tipo de paisagem acaba configurando um determinado tipo de turismo, que por sua vez se configura e se desdobra em vários outros segmentos. O ecoturismo e o etnoturismo são dois desses segmentos da atividade turística os quais podem configurar-se em tipos de atividades econômicas sustentáveis, isso quando bem planejadas. A depender da situação, esses dois segmentos do turismo podem apresentar aspectos negativos ou positivos em comunidades tradicionais e áreas naturais. A atividade turística, em terras indígenas, tem aumentado significativamente no Brasil nos últimos anos. Alguns pesquisadores apontam a importância da autonomia e sustentabilidade dos povos indígenas, do papel da sua cultura como produto turístico e dos problemas associados às políticas públicas nacionais, entretanto, o turismo indígena ainda não é um segmento reconhecido pelo poder público nacional, embora estejam em curso diversas iniciativas conduzidas por comunidades indígenas. O presente trabalho visa promover uma análise minudente do processo social-histórico de formação e desenvolvimento do turismo de base comunitária da etnia Macuxi, mais especificamente da comunidade indígena Raposa I, situada na Terra Indígena Raposa Serra do Sol (TIRSS), município de Normandia, no estado de Roraima. Localizada ao nordeste do estado, com uma distância de 240 quilômetros da capital Boa Vista, em 2018 a comunidade indígena Raposa I assumiu o protagonismo de transformar o potencial cultural existente e a sua relação homem-natureza em um produto turístico aliado ao processo sustentável. A iniciativa resultou na elaboração do Plano de Visitação Turística na Comunidade Indígena Raposa I, o primeiro no estado de Roraima que atende às exigências previstas na Instrução Normativa 03/2015 (IN), da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), voltado ao mercado e com foco na afirmação positiva da cosmologia indígena, ao levar em conta a manutenção da riqueza material e imaterial preservada na memória e expressa em seu cotidiano e em sua estrutura social, dando início ao processo de organização e catalogação dos potenciais turísticos da região, ao levar em conta a cultura autóctone e reafirmando o foco no cuidado com a natureza na perspectiva do turismo de base comunitária. Para aprovação de planos de visitação para fins turísticos em terras indígenas por parte dos povos nativos, a FUNAI estabelece uma série de normas técnicas e diretrizes relativas às atividades de visitação às terras indígenas no Brasil. De posse do relatório técnico da comunidade indígena Raposa I, promovemos a análise da efetividade da Instrução Normativa nº 03/2015, com objetivo de verificar sua viabilidade socioambiental.